Investigação Saúde Mental em Portugal
- YorkStyle
- 8 de dez. de 2023
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O que é a saúde mental?
A saúde mental pode ser definida por um estado de bem-estar emocional, psicológico e social de uma pessoa. Esta envolve a capacidade de lidar com o stress normal da vida, de trabalhar produtivamente, de enfrentar desafios de forma equilibrada e contribuir para a comunidade.
Ter saúde mental não implica apenas a ausência de doenças mentais, mas também o desenvovimento de autoestima, autoconfiança, capacidade de estabelecer e manter relacionamentos sociais e habilidades de resiliência e superação. A procura pela saúde mental envolve cuidar das emoções, procurar apoio e orientação quando necessário, adotar estratégias saudáveis a fim de viver com mais qualidade. Assim a saúde mental baseia-se no equilibrio entre as diferentes áreas da vid, como espiritual, emocional,pricológica e social.
Alguns problemas de saúde mental mais frequentes:
Ansiedade
Mal-estar psicológico ou stress continuado
Depressão
Dependência de álcool e outras drogas
Perturbações psicóticas, como a esquizofrenia
Atraso mental
Demências
Estima-se que em cada 100 pessoas 30 sofram, ou venham a sofrer, num ou noutro momento da vida, de problemas de saúde mental e que cerca de 12 tenham uma doença mental grave.A depressão é a doença mental mais frequente, sendo uma causa importante de incapacidade.Em cada 100 pessoas, aproximadamente, 1 sofre de esquizofrenia.
Aspetos determinantes da saúde mental
Os transtornos mentais surgem pela influência de múltiplos fatores sociais, genéticos, psicológicos e ambientais. As pressões socioeconômicas influenciam continuamente os riscos para a saúde mental individual e coletiva.
Questões psicológicas e de personalidade também tornam as pessoas mais suscetíveis aos desequilíbrios mentais. Além disso, as causas biológicas também contribuem para a desordem química das células cerebrais e aumentam a ocorrência da doença.
Nesse sentido, os familiares precisam de procurar ajuda e encaminhar a pessoa para o tratamento mais adequado. De igual modo, as instituições também são responsáveis pela promoção da saúde mental dos seus funcionários.
Mitos sobre as doenças mentais
Familiares e pacientes são muitas vezes incompreendidos devido à expressão de ideias baseadas em conceitos mal formulados ou não esclarecidos.
Os problemas mentais não podem ser interpretados como sinal de fraqueza ou falha de caráter. A verdade é que surgem por influência genética ou provenientes de alterações clínicas, sociais e de problemas familiares originados na infância ou na adolescência.
A falta de conhecimento pode ser muito prejudicial à recuperação do paciente, porque impede a busca de soluções adequadas para minimizar os efeitos do problema.
Assim, é preciso ter cuidado com ideias falaciosas e que colocam em causa o trabalho de profissionais capacitados e dedicados à recuperação da saúde mental. De entre os conceitos equivocados mais preocupantes destacam-se:
· doenças mentais são frutos da imaginação de quem tem a mente confusa;
· todos os distúrbios psicológicos levam à loucura;
· nem adianta procurar ajuda psiquiátrica, pois nenhum desajuste mental tem cura;
· pacientes com problemas mentais são todos igualmente imprevisíveis ou perigosos.
Promover e prevenir a doença mental
A prevenção da doença mental procura diminuir a probabilidade da ocorrência de uma doença(incidência), assim como trata-la e atenuar os seus efeitos ou futuras consequências. As ações preventivas definem-se como intervenções orientadas a evitar o surgimento de doenças especificas, reduzindo a sua incidência e prevalência.
Uma campanha de prevenção do tabagismo, poderá tratar-se de uma medida de prevenção de Doença (quando o objetivo principal é a redução da incidência de doenças pulmonares, por exemplo).
Trabalhar na prevenção de doenças mentais torna-se, cada vez mais, necessário e importante diante dos dados atuais de pessoas afetadas com problemas mentais.
Existem alguns hábitos que podem ajudar na prevenção de doenças mentais como a depressão e o transtorno de ansiedade, tais como:
Alimentação saudável
Uma alimentação rica em vegetais, proteínas e gorduras saudáveis é fundamental para o bom funcionamento cerebral. Nutrientes como ômega 3, vitamina B, ferro, zinco, magnésio, vitamina D, aminoácidos, entre outros, influenciam na produção de neurotransmissores, ajudam na prevenção da degeneração cognitiva e na perda de memória.
Praticar atividades físicas
Além de ativar a circulação sanguínea, estimular a produção de neurônios e melhorar a memória, o prazer causado pela atividade física cria uma satisfação constante em quem pratica exercícios regularmente, prevenindo a formação de quadros depressivos. “Sabemos que pessoas com depressão maior e transtorno bipolar, por exemplo, tendem a ser mais sedentárias do que a população em geral.
Dormir bem
Uma noite bem dormida pode prevenir vários problemas psicológicos e emocionais. Para o descanso mental e físico ser considerado adequado, é necessário dormir de 7 a 9 horas. Uma rotina de sono de qualidade recarrega a energia mental. Forçar a mente cansada pode trazer pensamentos inapropriados, sensações negativas e preocupações. Dormir bem é vital para a saúde do cérebro.
Meditar
Desligar a mente das preocupações diárias, principalmente no trabalho, não é uma tarefa fácil. A meditação é uma técnica oriental, que estimula o autoconhecimento, o controle e o equilíbrio emocional. O método é capaz de relaxar o lado lógico do cérebro e aliviar as tensões, ativando um lado sensitivo do cérebro.
O impacto da covid 19 na saúde mental
A pandemia Covid-19 influenciou a saúde global das pessoas, nomeadamente a saúde mental, como consequência direta da infeção viral, mas também devido às alterações sociais e económicas resultantes das medidas adotadas para controlar a disseminação do vírus no mundo.
Quais os fatores responsáveis por esse impacto?
A pandemia desencadeou diferentes fatores que afetaram de forma negativa a saúde mental de muitos cidadãos, nomeadamente:
1) Perda de rendimento;
2) Desemprego;
3) Isolamento;
4) Sensação de medo e incerteza face ao futuro e à evolução da doença;
5) Efeitos diretos do vírus no sistema nervoso central;
Quais os problemas da saúde mental se desenvolveram com maior frequência durante a pandemia?
- Ansiedade;
- Depressão;
- Perturbação obsessivo-compulsiva;
- Perturbação de stress pós-traumático;
Dificuldades/ Estigmas associados à doença mental
Os indivíduos com doença mental são vistos como perigosos, imprevisíveis, responsáveis pela sua doença ou vítimas merecedoras de pena. Estas noções estão enraizadas na sociedade, que contribui para a manutenção destes estereótipos.A discriminação dos doentes mentais tem por base o medo, crenças irreais (como a de que as pessoas com doença mental não conseguem participar ativa e produtivamente na sua comunidade) ou culpa, interpondo dificuldades a vários níveis:
· Ser contratado, promovido ou manter um emprego;
· Contribuir para a comunidade e sentir-se útil e produtivo no seio da mesma;
· Acesso à educação;
· Imigrar;
· Receber seguros;
Como ajudar a reduzir o estigma?
Procurar estar informado:
Sabemos que o estigma resulta do desconhecimento da doença mental. Procurar boas fontes de informação e de compreensão da doença, ajuda a reconhecer os equívocos e estereótipos envolvidos no estigma.
Procurar diferenciar a pessoa e a doença mental:
Sabemos que a pessoa não é a doença mental diagnosticada, mas é muito frequente que a pessoa seja identificada com a sua doença. Procurar reconhecer os atributos, as qualidades e os talentos da pessoa e compreender o que a diferencia das manifestações da doença, ajuda a reconhecer os equívocos e estereótipos envolvidos no estigma.
Procurar aceitar as limitações e ajudar a vencê-las:
Sabemos que todas as pessoas têm limitações, mas é muito frequente a excessiva valorização negativa das limitações decorrentes da perda de algumas capacidades pela doença mental. Procurar reconhecer e aceitar essas limitações, admitindo o seu carácter transitório e acreditar no potencial de melhoria da pessoa com doença mental, ajuda a reconhecer os equívocos e estereótipos envolvidos no estigma.
Procurar compreender a doença mental como uma doença que tem tratamento:
Sabemos que as doenças mentais são motivo de sofrimento e que melhoram com o tratamento médico especializado, adequado a cada caso. Procurar compreender a importância da aliança terapêutica com a equipa de saúde mental, da pessoa e seus familiares, num compromisso de adesão às opções terapêuticas disponíveis, acompanhando todos os progressos terapêuticos, ajuda a reconhecer os equívocos e estereótipos envolvidos no estigma.
Saúde Mental em Portugal vs Europa
Portugal está classificado como o quinto país com maior incidência de casos de depressão dentro da União Europeia. No Dia Europeu da Depressão (1 de Outubro), os estudos revelam que entre 8% a 10% da população portuguesa está diagnosticada com esta condição. Além disso, observa-se um aumento significativo no consumo de antidepressivos ao longo das últimas duas décadas, sendo Portugal um dos países europeus com o aumento mais expressivo, atingindo uma elevação de 304% entre os anos 2000 e 2020, de acordo com informações fornecidas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Na União Europeia, aproximadamente 84 milhões de pessoas enfrentam problemas de saúde mental, e os custos associados, tanto económicos quanto sociais, são estimados em 4% do PIB total. Esses dados não são um elemento novo, pois estão presentes no relatório da OCDE de 2018, antes mesmo da pandemia. O problema real é que, até o momento, esses números não foram suficientes para despertar uma resposta no Parlamento Europeu, na Comissão Europeia ou nos Estados-membros.
Estudos realizados nas empresas sobre a saúde mental
O estudo realizado pelo Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis destaca a necessidade prioritária de intervenção na saúde mental no ambiente das empresas. Os resultados apontam que os setores de saúde, educação e administração pública são os mais suscetíveis a esse risco, sublinhando a importância de medidas preventivas nessas áreas específicas.
Um estudo do Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis destaca a necessidade de priorizar a intervenção na saúde mental e prevenção do 'burnout' nas empresas. Os setores mais vulneráveis incluem saúde, educação, administração pública, transportes, área social, comércio e retalho. O estudo, que analisou cerca de 2.000 trabalhadores em vários setores, revela que quase 80% apresentam pelo menos um sintoma de esgotamento. A avaliação identificou preocupações com as lideranças, relações tóxicas no ambiente de trabalho e falta de reconhecimento profissional. O esgotamento afeta não apenas o desempenho profissional, mas também a saúde física e social, exigindo medidas preventivas nas organizações.
O sistema de Saúde Mental em Portugal
Uma nova lei que entrou em vigor dia 18 de Agosto de 2023 procura alterar a abordagem às pessoas com necessidades de cuidados de saúde mental. Ela estabelece que os inimputáveis, após cumprir a pena por um crime, devem ser libertados. A legislação introduz a figura do "tratamento involuntário" em substituição ao internamento compulsivo, sendo preferencialmente realizado em regime ambulatório. A nova lei também cria a figura da "pessoa de confiança" para apoiar o percurso de cuidados de quem necessita de cuidados de saúde mental. A entrada em vigor implica a libertação de 46 inimputáveis, mas o término dos internamentos depende de decisões judiciais. A legislação prevê ainda o aumento das equipas de saúde mental de 10 para 40 e faz parte da reforma da saúde mental planejada pelo governo até 2026, com um investimento de 88 milhões de euros disponíveis no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O coordenador nacional das políticas da Saúde Mental apelou previamente para um aumento das verbas, considerando as necessidades significativas nesta área.
Os dados apresentados no relatório "Sem mais tempo a perder – Saúde mental em Portugal: um desafio para a próxima década", do Conselho Nacional de Saúde (CNS), indicam que uma estimativa subestimada dos custos associados à doença mental em Portugal equivale a 3,7% do PIB, totalizando cerca de 6,6 mil milhões de euros. Apesar da relevância da saúde mental para o bem-estar individual e o impacto abrangente na sociedade, esta não tem sido adequadamente priorizada nas políticas de saúde. Desafios como as mudanças demográficas, obstáculos à reforma dos cuidados de saúde mental, desigualdades, a necessidade de combater o estigma e a discriminação persistem, contribuindo para a subestimação da saúde mental em Portugal e em todo o mundo.
A problemática da saúde mental representa um dos principais desafios para a saúde pública atual. Conforme indicado pelo estudo da Carga Global de Doenças, estima-se que aproximadamente 23% dos portugueses, ou seja, 1 em cada 5, sofram de alguma perturbação mental ou de uso de substâncias. Apesar desses dados, a implementação de políticas de saúde mental continua a ser significativamente subvalorizada em Portugal. Embora a promoção da saúde mental tenha ganho reconhecimento em estratégias nacionais e internacionais, e melhorias tenham sido alcançadas nas últimas décadas nos serviços de saúde mental em Portugal, como descentralização de serviços e desenvolvimento de programas de reabilitação psicossocial, persistem graves deficiências nos serviços de saúde mental no país.
Um ponto crítico a ser considerado é o número de recursos humanos, especialmente médicos especialistas em psiquiatria e psicologia. Entre 2014 e 2019, houve um aumento positivo no número de médicos especialistas em Psiquiatria de adultos e Psiquiatria da Infância e Adolescência no SNS. No entanto, internacionalmente, Portugal apresenta uma das taxas mais baixas de médicos especialistas em Psiquiatria na Europa, ocupando o 11º lugar, com apenas 14 Psiquiatras por 100.000 habitantes, um valor significativamente inferior à média dos países da OCDE. Esses indicadores apontam para a necessidade urgente de aprimorar os recursos e a abordagem à saúde mental em Portugal.
Os dados referentes às consultas de Psicologia nas unidades hospitalares do SNS revelam uma deficiência alarmante na cobertura dessa especialidade. Em 2019, apenas 13 unidades hospitalares do SNS ofereciam consultas de Psicologia, distribuídas de forma desigual pelo território (Norte: 4; Centro: 4; Lisboa e Vale do Tejo: 3; Alentejo: 1). Esses números não apenas destacam uma resposta desigual em todo o país, mas também sublinham a alta fragmentação na cobertura das consultas hospitalares de Psicologia, uma especialidade crucial na promoção da saúde mental e na prevenção do desenvolvimento ou agravamento de doenças mentais. Portanto, o aumento da oferta de consultas de Psicologia é uma área que necessita de um investimento mais significativo.
Bibliografia
https://www.dn.pt/sociedade/nova-lei-da-saude-mental-entra-domingo-em-vigor-16879832.html
https://www.uc.pt/healthycampusuc/areas-de-atuacao/saude-mental-e-social/
https://www.adeb.pt/pages/o-que-e-a-saude-mental
https://health.ec.europa.eu/non-communicable-diseases/mental-health_pt
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762018000200007
https://hospitalsantamonica.com.br/a-saude-mental-e-a-importancia-dela-na-vida-das-pessoas/
https://estanciabelavista.org.br/habitos-que-ajudam-na-prevencao-de-doencas-mentais/
https://www.sns24.gov.pt/tema/saude-mental/impacto-da-covid-19-na-saude-mental/
Filipa Lourenço nº3 e Francisca Faria nº4
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