João Pé de Feijão
- YorkStyle
- 4 de mai. de 2024
- 7 min de leitura
Neste Post vamos apresentar-vos a análise psicológica do conto de fadas "João Pé de Feijão", esperamos que gostem!
Era uma vez um menino chamado João que vivia com a mãe numa casa humilde. Eles tinham poucos recursos e estavam a passar por dificuldades.
A única riqueza que possuíam era uma vaca, mas ela já estava velha e não dava mais leite.
Assim, a mãe de João dá a missão de levar a vaca até a cidade para vendê-la por um bom valor para que pudessem comprar alimentos naquele mês.
João sai com o animal e antes de chegar à cidade encontra um senhor muito misterioso e com cara de sábio. O senhor oferece-lhe alguns grãos de feijão em troca da vaca e diz que são mágicos.
João aceita a troca e volta contente para a casa. Ao encontrar a mãe, conta o que aconteceu, mas ela fica muito chateada e atira os feijões pela janela. Naquela noite eles foram dormir com fome.
Na manhã seguinte quando João acordou ele olhou para o lado de fora de casa e viu uma enorme árvore. Durante a noite, enquanto dormiam, os grãozinhos cresceram e se transformaram num pé gigante de feijões.
Sem pensar duas vezes, o esperto rapaz começou a escalar o tronco da árvore para ver até onde chegava. Assim, depois de subir muito alto, chegou num sítio mágico entre as nuvens.
O menino viu um grande castelo e foi até lá. Encontrou então uma senhora que, com medo do gigante que morava no castelo, escondeu João na cozinha.
O gigante, que até então estava a dormir, despertou e disse que sentia cheiro de criança. E ele adorava devorar crianças!
A mulher despistou o grande homem e preparou-lhe um prato de comida. Depois de estar satisfeito, o gigante pediu para a sua linda galinha deitar ovos de ouro, ouviu a música da sua harpa encantada e voltou a dormir.
João assistiu a tudo impressionado e, assim que o gigante adormeceu, conseguiu roubar a galinha e a harpa sem que a mulher visse e desceu a correr para sua casa.
Mas pouco depois o gigante acorda e se dá conta que fora roubado. Ele então vê João a descer pelo pé de feijão e começa a descer também.
Mas o rapaz chega primeiro e corta a árvore com um machado afiado, fazendo com que o gigante caia lá de cima, e cai com estrondo no chão.
Então João e a mãe tornam-se prósperos com a galinha de ovos de ouro e vivem felizes para sempre.
Os contos de fadas abordam, de maneira literária, os desafios fundamentais da vida, especialmente relacionados à jornada rumo à maturidade. Eles sugerem de forma sutil às crianças a importância de procurar uma integração superior na vida e o que isso implica. Além disso, os contos alertam os pais sobre os riscos do desenvolvimento infantil, incentivando-os a estar atentos e a proteger seus filhos quando necessário, para evitar problemas. Também destacam a necessidade de os pais apoiarem e encorajarem o desenvolvimento pessoal e sexual de seus filhos, conforme apropriado. Assim, os contos de fadas oferecem valiosas lições sobre crescimento, responsabilidade parental e aceitação da complexidade da vida.
"João e o Pé-de-Feijão" é uma história que apresenta elementos como uma semente miraculosa que cresce até o céu, um ogro canibal que o herói derrota com astúcia, uma galinha ou ganso de ouro e um instrumento musical falante. Esses elementos combinados destacam a importância da autoafirmação social e sexual do menino. Além disso, a história critica a falta de visão da mãe de João, tornando-a significativa.
Nesta história, a vaca Leiteira Branca, que sustentava João e sua mãe, deixa de produzir leite, marcando o início da transição do paraíso infantil. A mãe ridiculariza a crença de João no poder mágico das sementes. O pé de feijão fálico leva João a um confronto edípico com o ogro, que ele vence graças à intervenção da mãe. João abandona a crença no poder mágico quando corta o pé de feijão, iniciando seu caminho rumo à masculinidade moderna.
O fim da amamentação marca o término da crença em um suprimento infinito de amor e alimento, tornando-se uma fantasia irreal. A infância começa com a ilusão de que o próprio corpo, incluindo os genitais, pode satisfazer todas as necessidades da criança, assim como o seio materno simbolizava tudo o que a criança desejava na lactância. Isso é válido tanto para meninos quanto para meninas, e é por isso que todas as crianças se identificam com "João e o Pé-de-Feijão". O final da infância ocorre quando esses sonhos de triunfo infantil são realizados e a autoafirmação se torna parte do dia a dia da criança, mesmo em confronto com os pais.
As crianças captam com facilidade o significado inconsciente
da tragédia quando a boa vaca Leiteira Branca, que fornecia todo o
necessário, repentinamente para de dar leite assim, suscita vagas lembranças
da época trágica em que a criança aprende o mundo externo lhe pode
oferecer. Isto é simbolizado pelo fato da mãe enviar João ao mundo
para conseguir algo (o dinheiro que esperam obter pela vaca) que os
sustente. Mas a crença de João nos fornecimentos mágicos não o
preparam para enfrentar o mundo de forma realista.
Até então a Mãe (a vaca, na metáfora do conto) fornecera todo
o necessário então a criança então volta se naturalmente
para o pai á espera que ele forneça o que necessita.
Se a Mãe, na forma de Leiteira Branca, lhe retira o apoio e torna
necessária uma modificação, nas coisas, então João trocará a vaca
não pelo que a mãe quer, mas pelo que lhe parece mais desejável.
Ser enviado de encontro ao mundo significa o final da lactância.
A criança deve então começar um processo longo e difícil de se
transformar num adulto.
A criança só aceita abandonar a dependência oral se puder encontrar
segurança numa crença realista - ou, como mais provável,
numa crença fantasticamente exagerada - no que o corpo e os próprios
órgãos farão por ela. Mas vê na sexualidade alguma coisa não
baseada numa relação entre homem e mulher, mas algo que pode
realizar sozinha. Decepcionado com a mãe, o menininho possivelmente
não aceita a ideia de que para concretizar sua masculinidade
precisa de uma mulher. Sem esta crença (irreal) em si mesma, a
criança não é capaz de enfrentar o mundo.
Esta é outra das razões por que João se dispõe a trocar
a vaca pelas sementes.
A criança percebe que o rápido crescimento das sementes comuns, mas mágicas, durante a noite, simboliza o poder miraculoso e as gratificações trazidas pelo amadurecimento sexual de João: a fase fálica substitui a oral; o pé-de-feijão substitui a figura da vaca Leiteira Branca. Através desse pé-de-feijão, a criança ascenderá às alturas para alcançar uma vida mais elevada.
A história retrata os estágios de desenvolvimento
que um menino deve atravessar para se tornar um
ser humano independente, e mostra como isto é possível, e até mesmo
agradável - apesar dos perigos - e é até muito vantajoso. Abandonar
as satisfações orais, ou melhor, ser forçado a fazê-lo devido
às circunstâncias - e substituí-las pela satisfação fálica como solução
para os problemas da vida.
Segue então a última etapa de crescimento, na qual João aprende que confiar na magia para resolver os problemas da vida não é eficaz. Ao alcançar uma completa humanidade na busca pelo que a harpa representa, ele percebe - quando o ogre quase o alcança - que se continuar dependendo de soluções mágicas, acabará destruído.
Quando o ogre o persegue pelo pé de feijão, João pede à mãe para pegar o machado e cortar o pé de feijão. A mãe traz o machado conforme solicitado, mas ao ver as enormes pernas do gigante descendo pelo pé de feijão, fica paralisada; incapaz de lidar com objetos fálicos. Em um nível diferente, a atitude da mãe significa que, embora ela possa proteger o filho dos perigos envolvidos na busca pela masculinidade - como a mulher do ogre escondendo João - não pode alcançar isso por ele; apenas ele mesmo pode fazer isso. João agarra o machado e derruba o pé de feijão, e com isso faz o ogre cair e morrer. Assim, João se liberta do pai, que é representado em um nível oral: como um ogre ciumento que o deseja devorar.
No entanto, ao derrubar o pé de feijão, João não se liberta apenas da imagem do pai como um ogre destrutivo e devorador; ele também abandona sua crença no poder mágico do falo como meio de obter todas as coisas boas da vida. Ao cortar o pé de feijão, João renuncia às soluções mágicas e se torna "verdadeiramente um homem". Ele não mais tomará as coisas dos outros, mas também não viverá com medo mortal dos ogres, nem dependerá de que mamãe o esconda no fogão (regressão à oralidade).
Por fim, na história a mãe não consegue auxiliar o filho porque, ao invés de apoiar seu desenvolvimento rumo à masculinidade, ela nega sua validade. A mãe de João, que inicialmente considerava seu filho tolo devido à troca que ele fez, mostra-se tola por não reconhecer as mudanças que estavam ocorrendo nele, transformando-o de criança em adolescente. Se as coisas tivessem seguido o desejo dela, João permaneceria como uma criança imatura, e nem ele nem a mãe teriam escapado da miséria. Impulsionado por sua crescente masculinidade, mesmo desencorajado pela visão depreciativa da mãe, João conquista uma grande fortuna por meio de suas próprias ações corajosas. Considerando todos os perigos da regressão à oralidade, a história de João transmite outra mensagem implícita: não foi totalmente negativo que a Leiteira Branca parasse de dar leite. Se isso não tivesse ocorrido, João não teria obtido as sementes que fizeram o pé de feijão crescer. A transição da oralidade para a masculinidade pode ocorrer de maneira segura se a Mãe aprovar e continuar oferecendo proteção. A esposa do ogro esconde João em um local seguro e protegido, assemelhando-se ao útero materno que proporcionou segurança contra todos os perigos. Essa breve regressão a um estágio anterior de desenvolvimento oferece a segurança e a força necessárias para o próximo passo em direção à independência e autoafirmação. Isso permite que o menino aproveite plenamente as vantagens do desenvolvimento fálico que está começando.
Obrigada a todos pela atenção!
Afonso Domingues, Filipa Lourenço, Francisca Faria e Francisco Faria
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